terça-feira, 22 de junho de 2010

A primeira Copa no continente africano

Confesso que vi com maus olhos a primeira Copa do Mundo na África. Afinal de contas, eles dariam conta ou não de realizar com brilho e sem maiores problemas o maior evento esportivo do planeta?
Há controvérsias. Vuvuzelas a parte (que são uma epidemia aqui na África. Você não goste e de repente está levando uma para o estádio!), problemas de segurança dentro e fora dos estádios são detectados. Há registros de pessoas que entraram sem ingresso no Soccer City e no Elis Park sem sequer serem incomodados pela segurança local.
Na cidade do Cabo, são muitos os registros de pequenos furtos, principalmente no centro da cidade, no entorno das Fan Fests e na famosa Long Street. Para nós brasileiros, nada muito diferente da insegurança das grandes cidades tupiniquins, todavia o que se vê é que se der mole perdeu moleque!
No fim das contas, ainda creio que o saldo da Copa do Mundo 2010 é positivo. Primeiro, por provar que um país africano é sim capaz de realizar um evento internacional do porte de uma Copa. Segundo, por sairmos daquela bolha de países ricos sediando as Copas, o que acontece desde 1986 quando o México recebeu o torneio.
As melhorias de infra estrutura são visíveis para a população local, apesar de ainda insuficientes para um povo tão carente de benefícios. Entretanto, não dá para negar que a Copa trouxe aos sul africanos uma gama de benefícios importantes.
Agora, quando o assunto é quem vai realmente aos estádios, fica para uma próxima oportunidade, porque isso dá muito pano pra manga...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O filme Ladrões de Bicicleta




Como o neo-realismo buscava retratar a realidade e a realidade do povo italiano na década de 40, com o fim da segunda guerra mundial, contava com um enorme desemprego, desesperança por parte dos cidadãos e a desigualdade social, era isso que passava nos cinemas italianos da época. E é nisso que consiste o neo-realismo italiano. Nesse contexto, Vittorio De Sica produziu o filme Ladrões de Bicicleta, em 1948, que acabou se tornando uma das maiores obras, não só do neo-realismo, mas da história do cinema e é visto até hoje como referência por críticos, estudantes e cinéfilos.
O filme conta a história de Antonio Ricci, interpretado por Lamberto Maggioriani, um cidadão italiano, desempregado há cerca de dois anos e já sem esperanças de encontrar trabalho. Antonio é casado e tem dois filhos, mas estava sempre penhorando objetos de sua casa para conseguir pagar as contas e sustentar a família. Um dia, já sem esperanças, ele recebe uma oferta de emprego para colar cartazes de filmes nas ruas. O único problema é que, para ser contratado, era obrigatório que ele tivesse uma bicicleta. E ele havia penhorado a sua. Desesperado para segurar o emprego que havia conseguido, Antônio diz que tem uma e é aceito no novo trabalho. Com a ajuda de sua mulher, o protagonista consegue penhorar os lençóis de sua cama e pegar de volta a sua bicicleta.
Depois de todo o esforço para conseguir a bicicleta de volta, ela é roubada no seu primeiro dia de trabalho. Quase todo o filme de De Sica gira em torno da busca de Antonio pelo ladrão, para conseguir seu emprego de volta. Assim, sem a ajuda da polícia e de seus chefes, ele sai, com seu filho mais velho, mas ainda criança, Bruno, para fazer justiça com as próprias mãos.
Antonio tenta, de todas as formas, encontrar o ladrão de sua bicicleta. Sem sucesso, ele passa, cada vez mais, a apelar para recursos que nem ele mesmo acreditava, chegando até mesmo a ir até uma vidente, para que ela o ajude a revelar a verdade. Mas ela em nada ajuda. O trabalhador, cada vez mais cansado e indignado vai perdendo a razão, passa a perseguir e acusar pessoas e bate em seu filho. No fim, já sem esperanças de justiça e novamente desempregado, Antonio tenta, em um ato de desespero, roubar a bicicleta de outra pessoa, mas é pego e acusado de ladrão por uma multidão. Ele só escapa de ser preso depois que o dono da bicicleta vê o rosto de Bruno, que assistia à cena chamando pelo pai, e sente pena, deixando Antonio ir embora.
Na última cena do filme não há falas. Podemos apenas ver Antonio e Bruno caminhando mudos de volta para casa e é possível ver, na expressão de Antônio a tristeza, o desespero e a indignação pela situação em que estava e da forma como acabou agindo.
De Sica consegue fazer um filme intenso, que retrata a injustiça da sociedade, o descaso das autoridades com os cidadãos e a impunidade daqueles que cometem delitos. Essas são características da Itália, na época, mas as críticas feitas pelo diretor podem servir também para enxergarmos a sociedade de hoje. Sendo assim, Ladrões de Bicicleta é um filme que fale a pena assistir, não só pelo que representa para o cinema mundial e pela sua beleza e sensibilidade, mas também porque, mesmo sendo um filme de 1948, em preto e branco, que se passa depois de uma guerra mundial, ele não deixa, por nem um segundo, de ser atual.

O Neo-realismo Italiano e seu contexto histórico




Logo após a segunda guerra mundial, grande parte da população italiana sofria com a condição econômica nada favorável do país. A Itália havia sido, durante anos, desde 1922, o cenário de um governo fascista de Benito Mussolini, deposto em 1943. Durante esse período, os trabalhadores perderam seus direitos, tiveram seus salários diminuídos e os sindicatos fechados. Assim, a Itália saiu da guerra como um país arrasado pelo desemprego e pelas dificuldades econômicas. Na segunda metade da década de 40, grande parte dos cidadãos italianos não tinha emprego e vivia em péssimas condições. As dificuldades financeiras causadas pelo desemprego faziam parte das vidas de uma massa de cidadãos.
Foi nesse contexto que surgiu o neo-realismo italiano. O novo estilo era bem diferente do cinema que feito na época, cuja produção era cara e os roteiros eram distantes da realidade social. O movimento tem como principais nomes os diretores Roberto Rossellini; da trilogia “Roma, Cidade Aberta” (Roma, città aperta - 1945), "Paisà" (Paisà - 1946) e "Alemanha, Ano Zero" (Germania Anno Zero – 1947); Luchino Visconti; que dirigiu o filme “Obssessão” (Obssessione – 1943), que é conciderada a obra que iniciou o neo-realismo; e Vittorio De Sica, diretor de “Ladrões de Bicicleta” (Ladri di Biciclette – 1948).
Essa corrente, que destacou o cinema italiano como referência e o levou para todo o mundo, caracteriza-se como obras que retratavam a situação real das pessoas, talvez, por isso tenha feito tanto sucesso. As pessoas se identificavam com os personagens dos filmes, que retratavam a sociedade em que viviam e a realidade em que estavam inseridos. Além disso, os filmes eram mais baratos, pois não eram tão utilizados os estúdios e sim, locações nas ruas, economizando o dinheiro que seria gasto com cenários, além de dar uma aparência mais real às obras. Também não é comum encontrar atores conhecidos em filmes feitos nessa vertente, que também tem como o fato de quase não se utilizar atores profissionais e sim, pessoas escolhidas nas ruas, que, na maioria dos casos, acabaram fazendo um único filme em suas vidas.

Entrevista - Eduardo Antônio de Jesus

Eduardo Antônio de Jesus tem mestrado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001). Atualmente é professor da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Audiovisual, cibercultura e Artemídia, atuando principalmente nos seguintes temas: produção audiovisual contemporânea, tecnologia, arte contemporânea e artemídia.Tem atuado na curadoria de mostras de audiovisual, como nos projetos "Imagem pensamento" e "Circuito Mineiro de Audiovisual".

Qual seu envolvimento com o cinema?

Sou professor de cinema e atuo na área de audiovisual e curadoria.

De acordo com o filme Ladrões de bicicleta(1948), o que você pensa sobre o cinema italiano?

Um momento muito importante da cinematografia mundial, quando houve uma preocupação ao mesmo tempo, estética e política.Uma obra prima da cinematografia internacional que colocou o neo realismo em pauta e influenciou outros movimentos como a nouvelle vague e o cinema novo brasileiro.

Você considera o Vittorio De Sica um grande diretor?

Não só eu....qualquer pessoa com o mínimo de bom senso acha isso.

Se fosse você que dirigisse o filme Ladrões de Bicileta,mudaria algo?Acrescentaria algo?O quê?


Impossível responder isso....é um clássico do cinema. Talvez outra obra, tomando o filme como referência. Talvez faria uma instalação.

Qual o filme que mais admira?Que você escolheria para ser o seu preferido?

São muitos. Mas poderia falar “O ano passado em Marienbad” de Alain Resnais ou “Um Z e dois zeros” de Peter Greenaway

Que filme não te chama atenção?Por que?

De um modo geral comédias americanas, filmes feitos para o oscar. Não tenho interesse nesse cinema muito narrativo e pouco experimental, apesar der ver com frequencia por causa das aulas e também para saber o que anda circulando.

Que tipo de filme(abordagem) você aconselharia os estudantes de jornalismo a assistirem sempre?


Como estudantes agora e como futuro profissionais acho que os estudantes de jornalismo deveriam ver MUITOS filmes. A cultura cinematográfica entre os alunos, de um modo geral, é MUITO fraca. Para uma pessoa ligada a comunicação é importante ver tudo.

Resenha - Ladrões de Bicicleta



O filme conta a historia de um homem que precisava muito de uma bicicleta para trabalhar, até que ele consegue penhorá-la. Mas seu sonho acaba quando sua bicicleta é roubada e começa uma perseguição pelas ruas de Roma.
O filme “Ladrões de Bicicleta” foi considerado um marco para o movimento cinematográfico italiano que é conhecido como “neo-realismo”. A principal característica do “neo-realismo” é mostrar a realidade do cotidiano e das classes menos favorecidas da época. Na maioria das vezes, os atores não eram profissionais e sim pessoas comuns que eram selecionadas no meio da rua. Como eram carentes de recursos e não possuíam estúdios, eles se viam obrigados a filmar nas próprias avenidas e becos de Roma, pois era mostrada a realidade misturado com a ficção. O “neo-realismo” mostra que é capaz de fazer um bom filme sem gastar muito dinheiro. Também era uma característica do “neo-realismo” a indiferença entre as autoridades e a população em conseqüência com a dura realidade do regime fascista. A grande crítica do filme é sobre o conflito entre a sociedade de consumo e a classe pobre.
Para o crítico André Bazin “o realismo no cinema se baseia, não em uma noção física de realidade, mas em uma noção psicológica”. O filme mostra o lado solidário das pessoas, pois quando a bicicleta é roubada, todos os cidadãos ficam indignados e querem de alguma forma recuperar a bicicleta. Eles dão uma surra bem dada no ladrão para que ele pague por tudo que fez. Eram utilizadas muitas metáforas no filme, como o caso dos lençóis que ficavam pendurados nas casas de penhora e a grande fila de miseráveis em busca de um trocado para dar o que comer para a família. Era muito comum essa pobreza geral na Itália durante a guerra. É mostrado também o contraste social entre os poderosos e os miseráveis, como a imagem da atriz famosa em um cartaz para cinema, o trabalho pesado daqueles que colavam os cartazes nos espaços públicos, algumas crianças comendo em um restaurante chique e o menino Bruno devorando seu pequeno pedaço de carne.
O filme Ladrões de Bicicleta relata um mundo de ficção com um pouco de realidade.